


Na entrada de uma gruta, a aranha tecia devagar a sua delicada teia quando um besouro veio lento e presunçoso zombar de seu trabalho:
- Está fazendo teia nova, senhora aranha? Pra quê?
- Esse é meu trabalho, senhor besouro! Daqui tiro meu alimento!
- Uma coisa tão frágil! Qualquer humano num puxão quebra com isso num instante!
- Tem razão, senhor! Minha teia é fraca para os humanos e para os animais maiores!
Disse a aranha sem brigar com o besouro e querendo terminar o assunto. Mas o danado não estava satisfeito. Queria continuar com a zombaria:
- Além disso, o que você chama de trabalho... Essa teia que você faz... Tem aspecto de sujeira... De abandono! Onde você tece não presta! É um local largado! Um lugar que ninguém quer! É sujo! Com pouca higiene! Uma coisa nojenta!
A aranha, sem para de tecer, respondeu com paciência:
- Continua com razão, senhor besouro! Para muita gente a minha teia é sinal de tristeza! Mas esse é o meu trabalho! Não posso deixar de fazê-lo só porque os outros não gostam dele! Mas com certeza ele é útil pra mim e pode um dia ter utilidade para outras pessoas!
- Não sei pra quem! Essa sua teia só serve mesmo pra senhora e pra emporcalhar os lugares!
- Pois se o senhor pensa assim, ótimo! Deixe-me em paz e vá cuidar da sua vida!
- Hum... Ainda por cima é malcriada!
O besouro disse isso e saiu voando junto com sua presunção. A aranha não quis perder tempo ficando chateada. Estava mais preocupada em fazer o seu trabalho. E se o besouro pensava assim... O que ela podia fazer? O melhor era continuar a fazer a sua teia na entrada da gruta.
Isso aconteceu numa época muito especial. Logo depois que o menino Deus nasceu num estábulo na cidade de Belém. E a Família Sagrada teve que fugir de lá. O rei Herodes, sabendo do nascimento do Salvador e temendo que Ele tomasse o seu lugar, mandou matar todos os recém-nascidos. Nossa Senhora, o Menino Deus e São José fugiram para o Egito sendo perseguidos pelos soldados de Herodes. Os inimigos se aproximavam cada vez mais e a Santa Família estava prestes a cair nas mãos dos carrascos.
Os anjos do céu voavam na frente dos fugitivos avisando o que estava acontecendo e pedindo ajuda. Até que o grupo passou na frente da gruta onde a aranha trabalhava. São José achou que aquele lugar seria o ideal para o descanso de sua família e eles entraram. A aranha ouviu o que os anjos diziam. Percebeu que, onde estava, a Santa Família seria uma presa fácil para os seus perseguidores. A aranha teve uma ideia e começou a trabalhar mais intensamente. Queria ajudar a Santa Família. Subia e descia. Pulava de um lado para o outro. Sempre tecendo. Com rapidez e agilidade inacreditável foi cobrindo toda a entrada da gruta com seus fios delicados. Num instante teceu uma longa teia que tomava toda a frente da gruta. Daí a pouco chegaram os perseguidores, os soldados de Herodes, que vinham atrás do rastro do burrinho que carregava Nossa Senhora e o Deus Menino. Até que chegaram na entrada da gruta e já iam entrar quando o comandante, vendo a imensa teia, os deteve:
- Nem percam tempo de entrar aí! É claro que é uma armadilha!
Um dos soldados estranhou:
- Mas o rastro segue nessa direção, senhor!
O comandante perdeu a paciência:
- Cale a boca, seu tolo! Não está vendo essa teia de aranha que cobre toda a entrada da gruta? Se alguém tivesse passado por aí a teia estaria rasgada e destruída! Ela está inteira! Ninguém passou por aí! Isso é um lugar abandonado! Deve estar imundo! Vamos seguir em frente! Com certeza iremos encontrá-los mais adiante! Avante!
E os soldados foram embora. Nossa Senhora, São José e o Deus Menino puderam descansar tranquilamente por toda a noite.
Na manhã seguinte, quando iam partir, Nossa Senhora abençoou a aranha e seu trabalho que tinham salvado o menino Jesus.
A teia foi rasgada para que a Santa Família pudesse seguir com segurança até o Egito. A aranha ficou feliz porque viu que seu trabalho foi útil.
E até hoje muita gente acredita que ter uma teia da protetora do menino Deus em casa traz felicidade.
Adaptação de Augusto Pessôa
In: Histórias de Natal
Editora Escrita Fina
Extraído do site: https://www.augustopessoa.com/histrias-de-natal
Crédito da imagem: https://br.freepik.com/
Contos Natalinos



